Estamos, há vários anos, a trabalhar na transformação deste festival num espaço de encontro. Temos investido na sua desaceleração, inscrição, pluralidade e acessibilidade, procurando colocar as pessoas e as relações ao centro. Temos igualmente procurado fazer dele um espaço de criação e reflexão, em que artistas e espectadores tenham tempo para (se) experimentar.
Esta transformação exige um entendimento diferente do tempo e do que são os encontros. O tempo não tem de ser uma prisão; somos nós que o construímos. E os encontros não têm de ser todos bem sucedidos e harmoniosos, se quisermos conversar para além do consensual. Este é o momento em que nos encontramos. Acreditamos que um festival pode ser esse tempo, em que reparar, cuidar e partilhar podem ser verbos para um mundo novo.
Uma mesa e uma caminhada são a espinha dorsal desta edição. Para a mesa, no centro do ponto de encontro, trazemos perguntas que emergiram nos últimos dois anos, motivadas por pessoas, acontecimentos e lugares específicos. Para a caminhada, trazemos disponibilidade para seguir duas mulheres que caminham a par, separadas por um oceano e uma cordilheira de distância.
Trazemos ainda. Uma mulher com uma vida igual a outras, que emerge como objecto de reparação da sua neta. Uma ficção pós-apocalíptica que sugere uma viagem de reconhecimento a grutas calcárias milenares. Uma utopia vegetal que dá lugar a um bruto paraíso juvenil. Um drone que sobrevoa uma aldeia, outra e outra, e por fim se detém sobre uma vila republicana. Uma mulher que faz o seu corpo ressoar e estilhaçar os limites do normativo. Um povo encantado que emerge da floresta e se oferece ao nosso olhar.
Reparamos. Cuidamos. Partilhamos.
Elisabete Paiva e equipa Materiais Diversos